A importância da arte em tempos difíceis

Karine Padilha • fev. 04, 2021

A arte, um lugar para existir

Em  1962 o Brasil vencia a copa do mundo FIFA de Futebol, o filme O pagador de Promessa do brasileiro Anselmo Duarte ganhava o Palma de Ouro em Cannes, e a Bossa Nova era apresentada aos americanos em NY em um show de João Gilberto, Tom Jobim e Carlos Lira.
Apesar da inflação e da crise socioeconômica que antecedia a ditadura militar de 64, a arte não só prevaleceu como também conseguiu extrair beleza da realidade e dar esperança àqueles que encontravam acolhimento nela.
 
Hoje, 58 anos após esse período e em meio a uma epidemia, continuamos encontrando na arte uma espécie de refúgio. 
É o caso do escritor Zack Magiezi, autor dos livros Para o Amor que Vai Chegar, Notas Sobre Ela e Estranheirismos, que em meio as adversidades causadas pela pandemia descobriu na arte um novo lugar para existir.
“O que eu mais senti durante o isolamento foi o fato de perder a rotina. Toda quinta feira eu costumava ir ao cinema e ver um filme, toda terça feira ia a livraria e assim por diante. Quando isso, e até mesmo as outras coisas mais básicas do dia a dia, foram subtraídas eu me senti muito afetado. Eu procurei na arte uma forma de passar por esse momento. A arte se tornou um universo paralelo, um lugar para existir. Mergulhei nos livros, nos filmes. Conheci novos artistas, novos autores, pintores, novas ideias, um novo mundo, e tenho buscado nesse novo mundo inspiração para as minhas produções” diz o artista.
 
O isolamento social nos convidou a fazer o movimento de voltar a atenção para dentro e pensar em formas criativas de solucionar problemas e transformar a rotina. Nesse processo a arte sempre esteve presente, embora muitas vezes sua presença tenha sido negligenciada. Durante o isolamento social fomos introduzidos como nunca ao universo digital e tivemos acesso a iniciativas artísticas como os filmes e séries, transmissões de orquestras, apresentações musicais, e até mesmo a um espaço livre para expressar ideias e emoções experimentadas nesse período. Tudo isso nos inspirou e nos possibilitou experimentar a vida de um outro jeito.
 
Também foi nesse contexto experimental, em meio ao COVID 19, que surgiu o CAM - Covid Art Museum - um museu de arte digital que explora a percepção artística que os internautas tem sobre a pandemia. O CAM é alimentado por pessoas de todo o mundo, através da hashtag #CovidArtMuseum e recebe obras que vão da fotografia a instalações, passando por ilustrações e esculturas. As postagens vão além da simples divulgação de arte e, certos trabalhos, instigam o internauta com questionamentos sobre as consequências de um longo período como esse. Lembrando que para ver as obras do museu você não precisa se deslocar espacialmente, basta digitar a hashtag e você tem acesso a todas as criações de onde você estiver. 
 
Para acompanhar, siga no instagram: https://www.instagram.com/covidartmuseum/?utm_source=ig_embed

As dificuldades dos tempos atuais nos obrigam a "pensar fora da caixa". Talvez seja por esse motivo que a arte tem intensificado sua presença. É através dela que somos instigados a perceber e (re)criar uma realidade material de formas diferentes; esse processo também se replica a nível subjetivo e evidencia nossa habilidade de reinvenção enquanto indivíduos e enquanto sociedade - é também por esse motivo que podemos afirmar que a arte desempenha um forte papel social.

 

Para a artista Carina Santos, a arte é uma maneira de ver e pensar o mundo para além de nossos próprios interesses e nosso próprio universo.

“Assim como a filosofia ou a química, a arte  nos ajuda a perceber o entorno, o outro e nós mesmos. Em tempos como este, onde a noção do “eu” parece se tornar tão exacerbada e insensível que permite, a uma grande parte da sociedade, não se comover com o sofrimento alheio, com a ameaça de vida que recai, especialmente sobre a população mais empobrecida e marginalizada, a arte me parece ser nossa única bóia de resgate.”

 

A arte enquanto dinâmica social, visa promover o bem estar não apenas de um indivíduo mas de um grupo inteiro. Atua como um lugar de pertencimento, uma forma de produzir cultura e resistir. Suas dinâmicas também ajudam a criar senso de empatia e união.



De uma forma ou de outra, a herança criativa da arte segue salvando vidas e possibilitando a ressignificação de momentos como esse que estamos vivendo.

De 1962 até aqui, podemos dizer que muita coisa mudou. Os tempos mudaram, as formas de fazer arte mudaram, mas o valor do fazer artístico continua o mesmo. Continuamos encontrando nele uma possibilidade de reinvenção, resistência e força.

 

John Cheever já dizia, "a arte é o triunfo sobre o caos". Que por meio dela, possamos triunfar novamente.

 

Um brinde a essa esperança.



Por bittenrenato 20 jun., 2020
Dando continuidade à série Degustando Cachaça com Arte, trouxemos algumas dicas de harmonização da cachaça com literatura. A literatura, assim como uma boa bebida, tem o poder de nos transportar para vários lugares. Dessa forma, ler e degustar cachaça podem proporcionar experiências sensoriais e afetivas riquíssimas ou até mesmo reviver memórias há muito esquecidas. Curiosidade: Um estudo feito pela Universidade de Graz, na Áustria demonstra que o álcool, quando ingerido com moderação tende estimular a criatividade. Nesse caso, degustar uma dose de Cachaça ao ler pode aguçar sua imaginação.  Segue nossa sugestão de harmonização de Cachaça com Literatura: O Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa - Para ler degustando Antonieta Amburana Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros em Lisboa, inicia o Livro do Desassossego, uma leitura que deve ser feita sem pressa e sem necessidade de ordem específica, a gosto de quem lê, com inúmeras pausas para reflexões e para perceber as inquietações nele contidas. O Livro do Desassossego é um relato de tudo que se vive e percebe-se com e sem a consciência, deixando à mostra toda genialidade de Pessoa enquanto um de seus mais de 70 heterônimos. A Hora da Estrela, de Clarice Lispector - Para ler degustando Antonieta Jequitibá O livro conta a história da nordestina Macabéa, mulher feia e alienada, que se muda para o Rio após perder sua tia. Ela trabalha como datilógrafa e passa suas horas livres ouvindo a Rádio Relógio. Logo ela se apaixona por Olímpico de Jesus, um metalúrgico nordestino, que a trai com sua colega de trabalho. E é depois de receber um conselho da própria 'colega' que Macabéa resolve ir a uma cartomante, e em pouco tempo verá sua hora da estrela chegar. Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo - Para ler degustando Antonieta Pura "Noite na Taverna", publicado em 1855, é uma autêntica representante da escola Byroniana do Romantismo no Brasil. Escrita por Álvares de Azevedo, trata-se de uma obra repleta de fantasia e composta por cinco personagens que se reúnem em uma taverna e compartilham entre si histórias macabras enquanto bebem. Gostou das nossas sugestões? Já pensou em qual livro da sua estante você harmonizaria com a sua cachaça? Aproveite esse momento para se inspirar e e compartilhe com os amigos e amigas apaixonados (as) por literatura e uma boa harmonização. Foto: Karine Padilha
Por bittenrenato 02 jun., 2020
Nesse primeiro post da série Degustando a Cachaça com Arte, vamos listar alguns músicos que harmonizam com nossas Cachaças.
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